A Victoria foi embora e já não nos pertence.
Já tínhamos percebido que isso acabaria por acontecer. O talento é grande demais. A Victoria foi-se embora e nem ela ainda percebeu. Vai continuar a dizer-nos que não, que é por aqui que vai ficar, que é aqui que vai trabalhar e eu acredito que ela esteja mesmo convencida de tudo o que nos diz. Mas não é nada disso que está a acontecer. A Victoria já foi embora e ela talvez ainda nem saiba.
“Linhas de Wellington” foi o princípio da partida, desenhada por Paulo Branco, concretizada por Raul Ruiz e Valeria Sarmiento. Branco e John Malkovich foram decisivos quando a escolheram para “Variações de Casanova”. Foram fundamentais na escolha da Victoria Guerra para “Cosmos”, o filme de Andrzej Zulawski, produzido por Branco, que esta semana teve a sua ante-estreia em Lisboa.
Quando em Dezembro o filme chegar às salas portuguesas e francesas, todos irão perceber do que falo quando digo que a Victoria já foi embora. Ela enche um ecrã como poucos. Enfrenta uma câmara como menos ainda. Irradia uma luz que não se explica por palavras.
Depois de “Cosmos” já filmou “Amor Impossível” com António-Pedro Vasconcelos, que estreia também em Dezembro. Já foi aos Estados Unidos rodar “Wilde Wedding” com Glenn Close, Patrick Stewart e uma vez mais Malkovich. Já se prepara para o novo filme de Benoit Jacquot ao lado de Mathieu Amalric. Inteligente foi a SIC de Gabriela Sobral – segurá-la com um contrato, antes que a partida se concretize. Mas mesmo que passe ainda algum tempo por aqui, a Victoria Guerra já não é nossa, já pertence ao mundo inteiro. E se olharmos para trás com atenção, há cinco ou seis anos, já lá estava tudo na “Catarina e as Outras” de André Badalo. Foi só ter a visão de lhe abrir a porta e de a deixar seguir o seu caminho.
Miguel Monteiro
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