Laura Antonelli, atriz italiana que esta semana foi encontrada morta aos 74 anos de idade, pediu vezes sem conta para a esquecerem. Tinha passado pelo cinema italiano dos anos 70 com um fulgor raras vezes visto. Protagonista de dezenas de filmes de teor erótico, onde tantas vezes se despiu, Antonelli nem terá reparado que era boa atriz. Mestres da comédia como Dino Risi ou Luigi Comencini perceberam esse outro lado e deram-lhe alguns dos seus melhores papéis. O francês Claude Chabrol também. E Luchino Visconti, mais que todos. O realizador chamou-a para o último filme que viria a realizar: “O Intruso”, em 1976.
Antonelli chegou aos olhares públicos nos anos 60 num anúncio da Coca-Cola, depois de uma breve carreira como professora de educação física. Roma era na época um dos centros do Mundo e Laura não teve dificuldade em entrar no Cinema. Fez várias “pontas” em diversos filmes como “O Fabricante de Loiras Explosivas” ao lado de Vincent Price ou “Como Casar a Nossa Filha?” de Alberto Sordi.
Mas só na década seguinte explodiu em títulos como “Malícia” (porventura o seu maior sucesso, em 1973), “Sexo Louco” ou “Pecado Venial”. Laura Antonelli foi consagrada como um dos maiores símbolos de Itália, cobiçada por homens do mundo inteiro, mas entregou o seu coração ao ator francês Jean-Paul Belmondo durante todo este breve período áureo. Um período que durou pouco. Muito pouco.
Depois de trabalhos menores e espaçados nos anos 80, Laura chegou à década de 90 decidida a refazer a sua carreira. Rodou uma sequela de “Malícia” que foi um fracasso de bilheteira. A sua vontade de voltar a ser um sex symbol levou-a a fazer operações plásticas tão mal executadas que a deixaram irreconhecível. A descoberta em 1991 de mais de trinta gramas de cocaína em casa, levou-a a um processo judicial e a uma pena de 42 meses de prisão. Os anos seguintes e toda a sua fortuna foram gastos em recursos sem fim. Só em 2000 o tribunal reconheceu-a como consumidora de droga e não como traficante.
Por essa altura, o mito Laura Antonelli estava já perdido e o nome Laura Antonelli estava esquecido. A descida aos infernos levou-a à reclusão, a tratamentos psiquiátricos, a um final de tragédia que se adivinhava há muito tempo. Segunda-feira foi encontrada morta em casa pela sua empregada, nos arredores de Roma.
Tudo correu mal na vida de Laura Antonelli. Até mesmo o seu pedido, há mais de vinte anos, para que a esquecessem. Esta semana, todos se lembraram dela.
Miguel Monteiro
(sigam por aqui)