Para além de ser coisa de homens, cabe ao dono da casa coordenar as operações. Como quem manda nesta casa é o meu pai, convidei-o para escrever sobre a arte da lareira de Natal.

TF

Acender a lareira para a noite de Natal, é coisa de homens. Não é assunto de mulheres! Já ouviram falar na “Mulher das Cavernas”? Nunca! O “Homem das Cavernas”, até é coisa que a História estuda. Tem de haver motivos, não é? O fogo, aquela coisa sagrada que mantinha a vida, tem de chegar pelas mãos do homem, cabendo-nos tal serviço.
A lareira justifica e simboliza a união familiar e reforça a data que comemoramos. Dá conforto, faz companhia e, para bem de todos, há que evitar comentários do tipo, “esta lareira está fraca, é preciso vir um homem acender isto?”.
Parece fácil, mas não é! Há um ritual obrigatório a seguir e, para aqueles menos habituados a estas lides, aqui vão algumas dicas que podem ser úteis:
– Limpar o “lar” (para os ignaros, “lar” é o sítio exato onde a lenha se transforma em cinza, que se guarda na “pilheira” -espaço reservado dentro do “lar”- e que vai servir para adubar a relva ou as plantas exóticas espalhadas lá pelos cantos da casa);
– Viajar até à “casa da lenha” e escolher algumas cavacas / toros secos que, a golpes de machado, se subdividem em partes mais pequenas, para facilitar o arranque das chamas (cuidado! o machado é uma arma de homem, daí não poder ser manobrado por qualquer pessoa menos avisada e com instintos maléficos);
– Carregar um “cepo” que nos garanta, no mínimo, 4 horas de boas chamas (normalmente, o tamanho do dito, obsta qualquer esforço feminino);
– Atestar o “canto” com uma boa porção de cavacas (para os citadinos: “canto”, lugar onde se empilha a lenha, junto à lareira);
– Colocar 1 pinha ou 2, sob a “pilha de lenha”, para iniciar a ignição (macho que é macho, utiliza fósforos);
– Depois de bem acesa, colocar uma garrafa de um bom vinho a “chambrear” junto ás “guardas” ou na “torça” da lareira (“guardas”, pedras laterais; “torça, peça superior que limita a altura da lareira);
– Aproveitar para assar um bom enchido e convidar os restantes membros da família para apreciarem a “arte do fogo” que, nesta ocasião, deve ser um trabalho exclusivo do “dono da casa”.

E bom proveito!