CROWDFUNDING: LUTAR POR UM SONHO
Tivesse o Welket Bungué nascido em Nova Iorque, Londres, Paris ou no Rio de Janeiro e seria hoje uma figura de primeira linha nos palcos, nos ecrãs e nas passerelles do mundo inteiro. Mas o Welket nasceu em Bissau e escolheu viver a sua vida em Lisboa. Estudar em Lisboa. Fazer o curso da Escola Superior de Teatro e Cinema em Lisboa. Foi aqui que se estreou nos palcos e foi aqui que se estreou na televisão.
Os que viram a série “Equador” jamais esquecerão a força e a tristeza do olhar do seu Jesus Saturnino – um escravo que luta sem medo pelo amor da sua vida. Foi aí que o conheci. Reencontrei o Welket quando gravámos juntos os “Morangos com Açúcar”, a série 6 de Verão, e desde então sei que apenas voltou a fazer uma participação na novela “Meu Amor” e na série “Os Filhos do Rock”. Fez teatro, participou em várias curtas, fez uma participação no filme “Quarta Divisão” de Joaquim Leitão. Muito pouco, para tanto talento. O Welket passou ainda pela maior indústria de cinema do mundo, fez um filme em Bollywood na Índia, e há pouco tempo decidiu estudar e apostar no Brasil.
Está de volta, agora. Não sei se é uma boa notícia ou uma má notícia. Talvez o seu talento seja de novo mal aproveitado, porque a ficção em Portugal, todos sabemos, nunca foi para negros. Mas talvez esta seja apenas uma passagem para concretizar um sonho com vários anos.
O Welket está a produzir, vai interpretar e realizar a sua primeira curta-metragem. Escreveu uma história notável. Rodeado de um pequeno grupo de amigos, já garantiu no seu elenco Maria do Céu Guerra. E agora está na parte mais difícil: o financiamento.
Porque nunca foi homem de desisitir e porque sempre foi à luta, o Welket apostou no crowdfunding, que agora começa lentamente a chegar a Portugal, depois de experiências bem sucedidas na Europa e nos Estados Unidos. É tão simples investir num filme em que se acredita. No caso deste filme, o crowdfunding foi feito de duas formas bem simples: a angariação de dinheiro através do site www.massivemov.com/bastien, que dura até ao dia 14, e a organização de três eventos que incluíram música, espectáculos de representação ou apenas noites animadas de copos, cujas receitas reverteram para a produção do filme. Estas três noites de eventos em Lisboa foram um sucesso. E não foram um sucesso por acaso. Resultaram porque através das redes sociais, com o apoio de entrevistas na SIC Notícias ou na RTP África, o Welket e a sua atriz principal, Maria do Céu Guerra, explicaram da forma mais simples do mundo o que os levou a apostar neste projecto. E quando uma mulher e uma actriz como Maria do Céu Guerra fala assim…ouve-se com muita atenção e acredita-se: http://vimeo.com/80596486.
Eu investi nesta curta do Welket (como já tinha feito no ano passado no documentário do João Manso e do Miguel Manso, “Bibliografia”) porque acredito no projecto, na força e no talento do Welket e na sua humildade – característica que só os Grandes conseguem ter. E porque acredito que este seu “Bastien” vai ser um grande filme. O argumento merece. E, acima de tudo, o Welket merece.
Miguel Monteiro