Os atores não morrem e Nuno Melo não morreu. Daqui a alguns meses vamos tê-lo de volta aos ecrãs uma vez mais pela mão do seu realizador: Edgar Pêra. É essa a magia maior do Cinema e é esse o privilégio de um homem que dedicou as últimas três décadas da sua vida ao cinema português. Fez séries e tele-filmes, claro. Muitas novelas em Portugal e uma no Brasil, para a Globo. Fez muitas curtas-metragens, tantas que seria injusto destacar apenas duas ou três. Talvez muitos o conheçam quase apenas da televisão, mas Nuno Melo conseguiu o que poucos, em Portugal, conseguem alcançar: ser um ator de cinema. Um grande ator de cinema
Membro da Academia Portuguesa de Cinema praticamente desde o seu início, nomeado para o Prémio Sophia de Melhor Ator Secundário em 2013 por “Estrada de Palha” de Rodrigo Areias, Nuno Melo apareceu pela primeira vez numa tela em 1988 no filme “Mensagem” de Luis Vidal Lopes.
Foi apenas o princípio. Dois filmes com Manoel de Oliveira, “A Divina Comédia” em 1991 e “O Dia do Desespero” em 92, podem ser hoje vistos como um ponto alto de um percurso artístico, mas este foi também, ainda e só, um princípio.
Nuno Melo foi dirigido por João Botelho (“Tráfico” em 1998) e João Mário Grilo (“451 Forte” em 2000), por Raul Ruiz (“Fado Majeur et Mineur” em 94) e Solveig Nordlund (“A Filha” em 2003), por Carlos Coelho da Silva (“O Crime do Padre Amaro” de 2005) e Nicolau Breyner (“A Teia de Gelo” de 2012).
Mas há três cineastas a quem o nome, a obra e o talento de Nuno Melo ficará para sempre ligado: José Nascimento, que o dirigiu num dos maiores desempenhos da sua vida, em “Tarde Demais” (2000) e em “Lobos”(2007). Rodrigo Areias que com ele fez “Tebas” (2007) e “Estrada de Palha” (2012). E sobretudo com Edgar Pêra – desde “A Janela Não é Paisagem” nos anos 90 até “Adeus Carne” ainda por estrear, um percurso de tantas e inesquecíveis colaborações. “A Janela (Maryalva Mix)” (2001), “Sudwestern” (2004), “Rio Turvo” (2007), o segmento “Cinesapiens” de “3X3D” produzido por Areias, “Lisbon Revisited” (2014) do qual Nuno Melo é uma das vozes off, “Virados do Avesso” (2014) e o inesquecível “O Barão”, que em 2011 valeu ao Nuno o Prémio de Melhor Ator da SPA e o Globo de Ouro, são apenas alguns desses encontros mágicos, também eles raros em Portugal, entre um cineasta e um ator.
Os atores não morrem. O Nuno Melo não morreu. Estará sempre em todos os filmes que fez.
Miguel Monteiro
(sigam por aqui)
(texto escrito para a página da Academia Portuguesa de Cinema)