A expressão mudou. Percebi que tinha dito qualquer coisa de grave (para ser honesto só me lembro com um pouco mais de detalhe do que se passou de seguida). Virou tranquila mas com determinação o prato de sopa sobre o meu colo. Levantou-se e saiu sem olhar para trás. O guardanapo aparou a maior parte. O cérebro aqui tem lacunas que não sabe preencher. Hoje acho graça. Acho que terei achado logo piada ao episódio uns dias depois. O caldo grosso e morno a entrar-me pelas miudezas a dentro. É como nos filmes. As pessoas ao lado fingem que não viram. E o melhor é mesmo acabar de jantar. Os empregados mostram uma qualquer solidariedade como se todos já tivessem passado por aquilo. Duvido. Há mulheres que exigem palavras exatas para momentos errados. Logo eu um desbocado pensei ao atacar o segundo prato.
Luis Pedro Nunes