O rei vai semi-nu
O mês de março terminou e com ele os flashes, fotos, selfies, modelos, câmara-acção-desfile, um desfilar de peças de autor desenhadas pela nata dos designers de moda portugueses. Do Terreiro do Paço à Torre Eiffel, do Palácio Foz em Lisboa ao Palácio da Bolsa do Porto, um pouco por todo o lado propostas, criadores, vips, ego-trips, coordenados, penteados, e roupa, muita roupa que isso sabemos nós fazer bem, nisso o País não envergonha ninguém.
A moda esteve em prime time, o país viveu a high life, a moda foi uma festa e a cada estação tudo parecia indicar que é desta. Mas depois da festa vem a ressaca, fecha-se o pano e cai a maquilhagem e a moda nacional só ressuscitará lá para Outubro. Até lá continuará no esquecimento. Os vips e a nossas estrelas vão descobrir novas festas, fast forward em fast fashion. Os comerciantes portugueses, os poucos que foram aos desfiles ou viram as colecções, vão continuar a ignorar a nossa moda de autor. Uns queixam-se da fraca capacidade de resposta dos designers, outros dos elevados preços das peças. As fábricas que lá fizeram uns modelitos e cederam uns sapatos voltam a centrar-se nos seus clientes internacionais. Os designers queixam-se da pouca receptividade de comerciantes e fabricantes. Os clientes queixam-se de não terem como ser clientes. Os poucos designers com loja própria depositam as esperanças sobretudo nos turistas. E quem não tem loja caça com o rato da Internet e da exportação, tentando furar no disputado mercado internacional e no segmento premium. O público português esse ficará ali a lamber revistas e as montras, um dia talvez consiga comprar uma peça de moda nacional. Nesta coisa da nossa moda o rei vai semi-nu. Ninguém é culpado, todos têm a culpa.