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É dificil comunicar na Rússia, pelo menos aqui por Moscovo. Estou sentado no aeroporto a iniciar este texto e já nos rimos à gargalhada (com algum desespero pelo meio), eu e o Luis Pedro Nunes. É que nem um “cake” para acompanhar o expresso eles apanham.
Vim ver a bola a Moscovo a convite da Hisense. Tal como outras marcas tecnológicas, esta é uma das principais fabricantes de televisões de ecrã plano e outros aparelhos electrónicos – a Hisense está junto do desporto e é uma das patrocinadoras do Mundial 2018, que também vai acontecer na Rússia. Mas é sobre a Taça das Confederações que aqui falamos e do jogo de Portugal – México, o segundo da competição, que aconteceu para encontrar o 3º classificado, objectivo a que nesta última disputa correspondemos com 2 golos e ganhámos no prolongamento. Não levámos a taça, mas levamos as medalhas que também sabem bem. Os penaltis iam estragando a festa (de novo), mas o golo do Pepe salvou-nos de uma desgraça maior e o Adrien resolveu já no prolongamento. Foram momentos altos e baixos, para o nosso lado, num jogo que foi morno e onde se fez sentir a falta de Ronaldo – foi dispensado para estar com os gémeos acabados de chegar. Valeu, também, a boa disposição dos adeptos no estádio com os mexicanos vestidos a rigor e os portugueses a fazer dançar nas bancadas as cores nacionais. Ouviam-se os cânticos tanto de um lado como do outro e a festa fez-se de festa, sem surpresas desagradáveis nas bancadas. Correu tudo bem, excepto a molha monumental à chegada ao estádio. Era escusada, parecia combinado com o S. Pedro: olhe lá, assim que se vejam as cabeças daqueles dois tugas fora da estação de metro, começa a chover tudo o que há para cair daí de cima, ok? Exagerado? Talvez um pouco, ate porque quem sofreu mais nem fui eu, que, por sorte, levei um impermeável bem catita.
(Continua)
Na Rússia
“No wi-fi” é o que ouvimos desde a chegada ao aeroporto. E por todo o lado! Só o hotel nos safou do bloqueio Russo à comunicação com o exterior (e não me tentem convencer do contrário!). Para quem, como eu, trabalha online em tudo o que faz, vir a Moscovo em trabalho pode ser um pequeno pesadelo. Mas também nos faz “cair na real” e ajuda a perceber a dependência instalada que, inconscientemente, temos da tecnologia e do diálogo com o exterior. O trivial e, muitas vezes, desnecessário “o que andas a fazer?” num chat, acaba por ser mais completo e rico quando se comunica por mensagens pagas. As fotografias postadas no Instagram acabam por ser mais cuidadas porque estiveste horas sem as publicar e, quando as escolhes, até o fazes racionalmente e com outra disciplina. No fundo, tudo é mais valorizado e profundo, mas não vos quero dar esta seca. Perdoem-me.
(Continua)
Moscovo é avassaladora. São 12 milhões de habitantes na cidade mais antipática do mundo, que assenta numa linha de metro de 346 kms, 12 linhas, reúne o poder e consequentemente a burocracia do país. É esta a cidade do Kremlin. É esta a cidade de Putin em 2017.
Dá para ter uma noção da dimensão logo na chegada, começam as auto-estradas larguíssimas, com quilómetros de distância, ainda bem longe do centro da cidade, mas parecem muito bem orientadas no seu sentido: Kremlin. Para caber esta imensidão de gente à volta de Mockba (significa Moscovo em russo), são dezenas, senão centenas, de bairros ao longo de todo o percurso de 1h e meia. Não há grandes adornos, não há grande trabalho de arquitectos, que por aqui se veriam gregos para desenvolver a sua arte de forma criativa: é que os prédios, imensos, são como que blocos de cerca de 15 andares onde vivem milhares de pessoas. Linhas rectas repletas de janelas básicas, cores frias. Bairros de ruas largas meio despidas, aparentemente sem luxos, contrastam com o centro da cidade, que em algumas zonas parece cheirar a rublos (moeda local). Num só edifício, vemos os stands da Ferrari, da Bentley, da Aston Martin espalhados por diferentes pisos, uma coisa imensa numa das avenidas principais. Nas ruas, óptimos carros (gostemos ou não, continuam a ser sinónimo de poder de compra), nas janelas, mais tímidas que numa Amesterdão, é certo, luxo familiar com lindos lustres e dourados e, nos restaurantes (e isto é que não dispenso) mais cuidados, há muita atenção ao pormenor orientado para o luxo. Não devem nada à simpatia, e quando vos digo nada, é nada mesmo. Mas parece que soubemos escolher e apesar de roçar o mal tratado, souberam receber numa noite de domingo com 4 violinistas a acompanhar o jantar no histórico e clássico Café Pushkin.
(Continua)
Tem de fazer parte da bucket list de qualquer pessoa, entrar uma vez na vida no Kremlin. E esta já posso riscar da minha e o Luís Pedro Nunes da dele. Desde que surgiu a possibilidade de vir que estávamos com ela fisgada, o nosso primeiro objectivo, antes de ir ao jogo, era ver a famosa Red Square, que durante a era da União Soviética se enchia com os enormes desfiles militares. A praça, que é circundada pelo edifício vermelho que é hoje o Museu Histórico do Estado, pela lindíssima e única Catedral de São Basílio, pelo Kremlin e pelas galerias do GUM shopping centre, era, na altura, ponto de partida para as marchas militares que penetravam pelas largas avenidas do bairro histórico de Kitay-gorod e daí por Moscovo fora. A imponência e frieza do regime da altura faz-se sentir ainda hoje na construção e na história que a cidade vive, em alguns casos também se recria para turismo – existe um roteiro do KGB que as agências locais vendem como produto, por exemplo, mas não fomos em nenhuma destas, até porque não havia tempo. As horas estavam contadas e tínhamos cerca de 2 dias para ir à bola e conhecer o principal de Moscovo. Seria imperdoável falharmos o Kremlin, que pode ser visto num passeio livre de cerca de 2 horas pelo interior, por apenas 500 rublos para tanta riqueza e história. O Kremlin, tem no interior da sua muralha de tijolo vermelho, palácios, catedrais, igrejas e inúmeros outros monumentos que merecem ser vistos pela sua beleza e riqueza únicas. Tudo construído ao longo dos séculos pelos vários governantes ou em honra dos mesmos.
(Continua)
No exterior, na saída para a Red Square, têm logo de frente a maravilhosa Catedral de São Basílio, que parece de plasticina. Cores vivas nas suas 9 torres, que definem o topo de cada uma das 9 igrejas do seu interior, esta Catedral foi mandada construir por Ivan – O Terrível, em celebração da conquista de Kazan aos mongóis. Louco que seria, este, após a sua construção, mandou cegar o arquitecto italiano para que este nunca mais desenhasse nada tão belo quanto esta obra do séc. XVI. Na outra ponta da Praça Vermelha, passando pelas majestosas galerias comerciais que vos falo em cima, está o Museu do Estado onde se pode encontrar parte da colecção de milhões de exemplares da história russa.
Ainda que tivéssemos passado por aqui num domingo chuvoso, a visita não deixou de ser boa e nada complicada, e a nossa paciência não deixou que a antipatia destes anfitriões nos estragasse a aventura.