Para que serve? | O fundo côncavo das garrafas de vinho

De volta a questões pertinentes. O objectivo da rúbrica Para Que Serve é, naturalmente, dar respostas. Mas, por vezes, os assuntos são tão inconclusivos e ‘polémicos’ que o melhor a fazer é mesmo colocar mais questões e deixar que cada um formule o seu próprio raciocínio. É o caso que vos trazemos hoje. Os fundos côncavos que vemos em grande parte das garrafas de vinho – conhecidos por punt (já vão perceber porquê). Para matar a sede (de curiosidade), fomos ler um pouco sobre o assunto e encontrámos as mais variadas teorias e muito poucas certezas. Ainda assim, vale a pena avisar já que este pormenor nada tem que ver com a qualidade do vinho em si. Seleccionámos os 5 argumentos que nos pareceram mais interessantes e lógicos, e apresentamo-los de seguida. Ficamos à espera do vosso feedback. Com qual das teorias se identificam mais?

Antes ainda disso, e já que estamos neste tópico, só lembrar que o Vinho Bons Rapazes (Branco e Tinto) já está por aí à venda.

1. Facilitar o manuseamento

Olhando para a imagem acima, de facto, servir um copo de vinho com o polegar na concavidade da garrafa dá a sensação de que a pessoa sabe o que está a fazer. Mas nem é tanto pela questão do requinte que esta teoria tem alguns apoiantes. É mais pelo facto de, supostamente, se evitar o aumento de temperatura do vinho, uma vez que o contacto entre a mão e a garrafa é menor. A questão é: será assim tão prático? Parece-nos um pouco arriscado, especialmente se se tratar de um branco gelado e de uma garrafa escorregadia…

2. Facilitar o armazenamento e empilhamento

Tem a sua lógica, também. Reparem que o facto de o gargalo de uma garrafa “encaixar” na concavidade da outra não só torna o empilhamento mais compacto (e seguro), como, ao fim de um grande número de garrafas, permite poupar algum espaço. A jornalista e crítica de vinhos Jancis Robinson acredita que existe uma relação com a remuage – técnica de produção do champagne e certos vinhos espumantes. As garrafas são colocadas de cabeça para baixo e, durante o dia, vão sendo giradas para que os sedimentos da fermentação da bebida desçam até ao gargalo para serem depois removidos. O acto de girar a garrafa pode ser feito manualmente, mas alguns produtores utilizam uma espécie de gaiola chamada Gyropalette, que faz esse trabalho mecanicamente. A teoria de Jancis Robinson afirma que durante uma remuage, feita através das Gyropalettes, esta forma de empilhamento reduzia a movimentação das garrafas dentro das gaiolas.

3. Tornar a garrafa mais resistente

Segundo esta teoria, a explicação para a origem do punt pode estar relacionada com os vinhos espumantes. As garrafas dos vinhos espumantes estão sujeitas a uma pressão interna 4 a 6 vezes superior à pressão de fora, por culpa do gás carbónico, que resulta da segunda fermentação. Antigamente, acontecia com alguma frequência garrafas estourarem no momento em que a rolha era colocada ou até após o engarrafamento. Supostamente, a concavidade ajudaria a distribuir a pressão interna nas garrafas de espumantes. Se assim for, então, por que razão os vinhos mais tranquilos (brancos, rosé e tintos) também são comummente comercializados neste tipo de garrafas?

4. Manter os sedimentos no fundo da garrafa

Vinhos guardados durante largos anos em adegas ou outros que não passaram pela filtragem, por exemplo, tendem a acumular sedimentos no interior das garrafas. Na hora de servir, os sedimentos são removidos através da decantação. Ao contrário do que algumas pessoas pensam, estes pequenos resíduos/borras não representam um defeito da bebida. Antes pelo contrário, são um sinal de que se trata de um vinho (tinto, especialmente) mais complexo e potente, e a presença dos sedimentos contribui para apurar o sabor e a longevidade do mesmo. Assim sendo, o arco formado no interior da garrafa exerceria uma força gravitacional que faz com que os sedimentos fiquem retidos no fundo, em vez de escorrerem para o gargalo no momento em que o vinho é servido. Acontece que, tal como no caso da teoria anterior, esta explicação não abrange todos os casos, uma vez que brancos, rosés e espumantes já são vinhos que não envelhecem como o tinto.

5 – Equilibrar a garrafa

Ora bem, decidimos deixar a teoria mais plausível para o fim. De acordo com o livro “The Story of Wine”, do crítico e historiador inglês Hugh Johnson, mencionado pela Wine Spectator, pode ser tudo uma questão histórica. Antigamente, as garrafas eram fabricadas através da técnica do sopro. Os “sopradores de vidro” sopravam uma massa de vidro em brasa, através de um cano, enquanto iam girando o cano para obterem o formato pretendido. Por norma, esta técnica fazia com que se criasse uma ligeira curvatura no fundo da garrafa, que era o suficiente para impedir a sua estabilidade quando colocada de pé. Para resolverem o problema, estes profissionais encaixavam a base da garrafa numa ferramenta chamada punt (tchanã!!), que tinha como função empurrar o fundo para dentro, evitando que a garrafa caísse. E que tal… convencidos?