CINEMA POR MIGUEL MONTEIRO | CLINT

Foto Clint e Oiveira

O Manoel pôs a fasquia demasiado alta para nós todos”. A frase é de Clint Eastwood e foi dita pouco antes de Manoel de Oliveira morrer. Um site americano fazia, então, a lista dos mais velhos realizadores do mundo ainda a trabalhar e Eastwood, que nunca escondeu a admiração por Oliveira, dizia que gostava de continuar a filmar até à idade do realizador português.

Clint Eastwood festejou no domingo 85 anos e esperou apenas três dias para anunciar que não tenciona retirar-se tão cedo. Depois de ter estreado dois filmes, em 2014, “Sniper Americano” e “Jersey Boys”, prepara-se já para começar a trabalhar no seu novo projecto: “Sully”.

O filme vai contar a história do comandante da companhia aérea U.S. Airways Chesley “Sully” Sullenberger que, em Janeiro de 2009, aterrou o seu avião no rio Hudson em plena Nova Iorque, salvando todos os passageiros que seguiam a bordo. É uma história boa demais para não ser contada por Hollywood e a única coisa que surpreende é não ter sido ainda adaptada ao cinema. Vai, finalmente, chegar aos ecrãs em 2016 e o verdadeiro Sully, embora desconhecendo quem vai interpretar o seu papel, diz-se, desde já, encantado com a “dream team” que está envolvido no filme.

Em 1993 fui a Los Angeles fazer a cobertura da entrega dos Óscares. Depois de anos como herói de filmes de acção e de realizar filmes que os críticos estavam a adorar, mas aos quais o público não demonstrava grande adesão, Clint e o seu western “Imperdoável” eram os grandes favoritos. Durante os dias que antecederam a cerimónia, percorri várias festas e conheci vários amigos de Eastwood. Burt Reynolds, um dos mais chegados, não me escondeu o seu entusiasmo sobre as nomeações, mas também ele não tinha grandes certezas sobre a consagração do amigo. “Estou a torcer muito pelo Clint. Quero muito muito que ele ganhe, mas vamos ver…”, disse-me no Beverly Hills Hotel.

Foto Clint Eastwood

Na noite de 29 de Março de 93, no Dorothy Chandler Pavillion do Los Angeles Music Center, Clint Eastwood recebeu os Óscares de Melhor Filme das mãos de Jack Nicholson e o de Melhor Realizador, entregue por Barbra Streisand. Acho que todos naquela sala tivemos duas sensações diferentes: um alívio igual ao que sentimos quando Spielberg ou Scorsese ganharam finalmente os seus primeiros (e tardios) Óscares, um sentimento de justiça feita e, em simultâneo, aquela impressão estranha de que estávamos a assistir à última oportunidade que a Academia tinha para homenagear Clint. Depois de uma comovente ovação de pé, nos agradecimentos, Clint Eastwood confirmou que a idade já lhe começava a pesar: “O problema de viver tanto tempo é que conhecemos tanta gente e já não nos conseguimos lembrar dos nomes…”, disse no palco.

Burt Reynolds 1993

Não podíamos estar todos mais enganados! Desde então, Clint Eastwood realizou dezoito filmes, venceu mais dois Óscares por “Million Dollar Baby”, somou outras seis nomeações, venceu uma Palma de Ouro Honorária em Cannes e um Leão de Ouro de carreira no Festival de Veneza, ganhou prémios no mundo inteiro e assinou obras inesquecíveis como “Mystic River”, “As Pontes de Madison County” ou “Gran Torino”. Apesar de ter começado como actor ainda nos anos 50 e de apenas se ter estreado na realização em 1971, Clint Eastwood, nestes últimos vinte e poucos anos, conquistou um lugar ao lado de Francis Ford Coppola ou de Martin Scorsese como um dos mestres absolutos do cinema americano. E promete não parar, mesmo que não consiga chegar à idade de Manoel de Oliveira.

Miguel Monteiro
( sigam o Miguel aqui )