CINEMA POR MIGUEL MONTEIRO | KRISTIN

Bons Rapazes Kristin Scott Thomas 1

Rapazes:

Uma “Dame” do Império Britânico, condecorada pela Rainha Isabel II, de apenas 54 anos, nomeada para um Óscar, de um talento imenso e linda de morrer está à vossa espera em Londres. Se passarem por lá não deixem de ver Kristin Scott Thomas ao vivo no palco do Teatro Apollo, na Shaftesbury Avenue, na peça “The Audience”.

Não é por acaso que, com apenas 54 anos, Kristin é uma Dama. Ser Dama no Reino Unido é uma honra destinada a grandes mulheres com grandes carreiras. É o caso de Maggie Smith, Judi Dench ou Helen Mirren, por exemplo. Kristin Scott Thomas é uma das mais novas. E seguramente a única que afirma publicamente que deve a sua carreira a Prince!

Foi o cantor Prince que lhe deu a primeira oportunidade. No ano de 1986, Prince decidiu que queria realizar um filme. Fez testes a dezenas de actrizes para papéis secundários e Scott Thomas foi uma delas. Quando a conheceu, o cantor nem hesitou: deu-lhe o papel principal. Kristin Scott Thomas ainda só tinha feito uns trabalhos menores para televisão e uma curta-metragem para cinema, mas com o filme de Prince, “Under the Cherry Moon”, e com a curiosidade que o trabalho despertou no meio cinematográfico do Reino Unido e dos Estados Unidos, a actriz estava lançada.

Dois anos depois já tinha o papel principal de “Uma Mão Cheia de Pó”, entrou nos anos 90 com Roman Polanski a dirigi-la em “Lua de Mel, Lua de Fel”, conquistou também o mercado francês porque é bilingue e até hoje foi nomeada para três Césares, os Óscares de França. Marcou todos os que a viram em “Quatro Casamentos e um Funeral” em 1994 e recebeu uma nomeação para o BAFTA de Melhor Actriz Secundária. Em 1996 foi nomeada para o Óscar de Melhor Actriz com “O Paciente Inglês”. Nesse mesmo ano fez “Missão: Impossível” com Tom Cruise.

A última vez que a vimos nas salas portuguesas foi nos filmes “Uma Senhora Herança” e “Suite Francesa”. Entre os seus mais recentes sucessos estão “A Pesca do Salmão no Iémen” onde contracenou com Ewan McGregor e “Só Deus Perdoa” que fez com Ryan Gosling. Entre os seus fracassos – que também os tem – está “Bel Ami” com Robert Pattinson.

Mas voltemos ao Teatro Apollo de Londres. Aqui ao lado, a duas horas e vinte de voo, Kristin Scott Thomas está de regresso aos palcos na peça “The Audience” no papel de Rainha Isabel II. Kristin Scott Thomas passa por seis décadas de reinado, ficcionando como terão sido os encontros secretos da Rainha com todos os seus primeiros-ministros, de Churchill até David Cameron. E durante pouco mais de duas horas, numa interpretação brilhante e sem uma falha, alternando entre Isabel II nova e Isabel II octogenária, transformando-se no palco à nossa frente, Kristin Scott Thomas consegue que nós, os espectadores, nos esqueçamos que é uma atriz que está ali à nossa frente e não a própria soberana. Mesmo aqueles que como eu a encontraram por acaso a chegar ao teatro de táxi ou a sair a pé depois da peça, à chuva, sozinha pelas ruas do West End. Nada como uma Dama. Nada como uma Rainha. Apenas como uma mulher igual às outras. E é com essas duas imagens que ficarei de Kristin Scott Thomas: imperial no palco, de costas à chuva sozinha, como se minutos antes, com o fechar de uma cortina, não tivesse passado por mais uma noite triunfal na sua vida.

Miguel Monteiro
( sigam o Miguel aqui )

Bons Rapazes Kristin Scott Thomas 3