Cinema por Miguel Monteiro | RECRIAR PAUL WALKER

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Quando, na próxima semana, estrear no mundo inteiro o sétimo filme da série “Velocidade Furiosa”, será dado um dos maiores passos da tecnologia do cinema dos nossos tempos, e será finalmente visto um dos maiores mistérios de Hollywood: como foi recriado Paul Walker?

Paul Walker morreu tragicamente num acidente de carro a 30 de Novembro de 2013. Estava numa pausa das filmagens de “Velocidade Furiosa 7” e a sua morte levou a uma paragem forçada na rodagem. Faltava-lhe filmar metade das suas cenas. Retirar o seu personagem foi ponderado, mas a ideia rapidamente foi afastada. Produtores e actores do filme, entre os quais Vin Diesel, um dos melhores amigos de Walker e protagonista da série, chegaram à conclusão que o Brian O’Conner de Paul deveria ficar.

O argumento foi reescrito. A estreia, imediatamente alterada de 2014 para 2015. Devido às semelhanças físicas, foram chamados os dois irmãos de Paul, Caleb e Cody, para rodarem cenas como duplos. E tudo o resto foi deixado à magia e à técnica dos computadores. Paul Walker foi, literalmente, ressuscitado neste filme, levando a crítica especializada em Hollywood a escrever, sem qualquer pudor e sem reservas, que chegou o tempo em que os actores já não são assim tão necessários quanto isso…

Em que cenas está Paul Walker e em que cenas Paul Walker foi recriado? Esse será o mistério que irá perdurar e sobre o qual ninguém falará. O realizador do filme, James Wan, confirma que os irmãos (e um outro actor, Josh Brotherton) ajudaram a recriar Paul, inclusivamente dando voz a diálogos ainda não gravados. E mais não revela. Esta semana, o jornal “The Hollywood Reporter” avança a notícia de que foi a empresa de efeitos especiais de Peter Jackson, Weta Digital, a responsável pela “criação de um novo Paul Walker”. Mas qual é um e qual é outro? Dificilmente iremos perceber. Todos estão dispostos a manter o segredo bem guardado.

Esta não é a primeira vez que um actor morre durante filmagens e deixa uma produção em suspenso. Em 1999, ainda os efeitos especiais gerados por computador davam os seus primeiros passos, e já Ridley Scott perdia o actor britânico Oliver Reed durante a rodagem de “Gladiador”, em Malta, vitimado por um ataque cardíaco. Scanners foram feitos ao rosto de Oliver Reed e colocados em pós-produção no corpo de um duplo. Os resultados foram satisfatórios e quem não sabia da história aquando da estreia do filme em 2000, não percebeu a diferença.

No mesmo ano, morria nos Estados Unidos a actriz Nancy Marchand durante as gravações da série “Os Sopranos”. Marchand interpretava o papel de mãe de Tony Soprano e os argumentistas não tiveram outra solução senão matar o personagem também. Mas Nancy Marchand aparece no primeiro episódio da terceira temporada, gravado seis meses após a sua morte, usando a mesma técnica de “Gladiador”. O vídeo está aqui.

Quando Heath Ledger apareceu morto na sua casa de Nova Iorque, estava a meio da rodagem de “The Imaginarium of Doctor Parnassus”. Mas aí o realizador Terry Gilliam usou uma forma bem mais original de o substituir: chamou três dos melhores amigos do actor e cada um deles interpretou algumas das cenas que faltavam a Ledger. Nem mesmo o facto desses amigos serem Colin Farrell, Johnny Depp e Jude Law salvou o filme de um fracasso nas bilheteiras.

De Marilyn Monroe, que deixou por acabar “Something’s Got to Give” em 1962, a River Phoenix, que morreu em 1993 durante “Dark Blood” (filme que só acabou de ser montado e só foi exibido em 2012) passando por Brandon Lee em “O Corvo” ou mais recentemente Philip Seymour Hoffman com “The Hunger Games – A Revolta”, a morte de um actor durante a rodagem de um filme é sempre um risco. Talvez por isso já se comente que há produções que já estão a fazer scanners completos de actores antes de começarem as rodagens… para o caso das coisas correrem pelo pior!

 

Miguel Monteiro